domingo, 10 de agosto de 2014

MEDO E O MACACO

William S. Burroughs

Coceira irritante e o perfume da morte
no sussurrante vento sul
Cheiro de abismo e nada
o Anjo Vil dos vagabundos uiva pelo apartamento
como um sono cheirando a doença
Sonho matutino de um macaco perdido
Nascido e sufocado por velhas fantasias
Com pétala de rosa em frascos fechados
Medo e o macaco
Gosto amargo de fruta verde ao amanhecer
O ar lácteo e picante da brisa marinha
Carne branca denuncia
teus jeans tão desbotados
Perna sobre sombra do mar
Luz da manhã
no néon celeste de um armazém
No cheiro do vinho barato no bairro dos marujos
Na fonte soluçante do patio da polícia
Na estátua de pedra embolorada
No molequinho assobiando para vira latas.
Vagabundos agarram suas casas imaginárias
Um trem perdido apita vago e abafado
No apartamento noite gosto d'água
Luz da manhã em carne láctea
Coceiras irritante mão fantasma
triste como a morte dos macacos
Teu pai uma estrela cadente
Osso de cristal no ar fino
Céu noturno
dispersão e vazio.


                                                                         William S. Burroughs




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