sábado, 12 de julho de 2014

LIRA VIII


Poeta Inconfidente
Marília, de que te queixas?
De que te roube Dirceu
o sincero coração?
Não te deu também o seu ?
E tu, Marília, primeiro
não lhe lançaste o grilhão?
                 Todos amam: só Marília
                 desta lei da natureza
                 queria ter isenção?

Em torno das castas pombas,
não rulam ternos pombinhos?
E rulam, Marília, em vão ?
Não se afagam c'os biquinhos?
E a provas de mais ternura
não os arrasta a paixão?
                 Todos amam: só Marília
                 desta lei da natureza
                 queria ter isenção?

Já viste, minha Marília,
avezinhas que não façam
os seus ninhos no verão?
Aquelas com quem se enlaçam,
não vão cantar-lhes defronte
do mole pouso em que estão?
                 Todos amam: só Marília
                 desta lei da natureza
                 queria ter isenção?

Se os peixes, Marília, geram
os bravos mares e rios,
tudo efeitos de amor são.
Amam os brutos ímpios,
a serpente venenosa,
a onça, o tigre, o leão.
                 Todos amam: só Marília
                 desta lei da natureza
                 queria ter isenção?

As grandes deusas do céu
sentem a seta tirana
da amorosa inclinação.
Diana, com ser Diana,
não se abrasa, não suspira
pelo amor de Endimião?
                 Todos amam: só Marília
                 desta lei da natureza
                 queria ter isenção?

Desiste, Marília bela,
de uma queixa sustentada
só na altiva opinião.
Esta chama é inspirada
pelo céu, pois nela assenta
a nossa conservação.
                 Todos amam: só Marília
                 desta lei da natureza
                 queria ter isenção?



                                                       Tomás Antônio Gonzaga







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