terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

ESPELHO


Sylvia Plath



Sou prata e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo me serve e sorvo...
Tal qual é, sem nódoas de amor ou desgosto.
Não sou cruel, sou sincero –
O olho de um pequeno deus, quatro cantos.
Converso o tempo todo com a parede.
É rosa, mofada. Olho-a tanto que acho
Que já é parte do meu coração. Mas racha.
Faces e escuridão nos separam mais e mais.

Agora sou um lago. Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas águas sua face real.
Então fita aqueles farsantes, a vela e a lua.
Vejo suas costas e a reflito fielmente.
Ela retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
Todas as manhãs seu rosto repõe a escuridão.
Em mim se afogou uma menina, e em mim uma velha
Nada atrás dela dia após dia, como um peixe terrível.


                                                                          Sylvia Plath

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