sexta-feira, 23 de março de 2012

GLAUBER MORTO

                                                                     Ferreira Gullar
O cineasta do Novo Cinema Brasileiro



O morto
não está de sobrecasaca
não está de casaca
não está de gravata.

O morto está morto

não está barbeado
não está penteado
não tem na lapela
uma flor
                  não calça
sapatos de verniz

não finge de vivo
não vai tomar posse
na Academia.

O morto está morto
em cima da cama
no quarto vazio.

Como já não come
como já não morre
enfermeiras e médicos
não se ocupam mais dele.

Cruzaram-lhe as mãos
ataram-lhe os pés.

Só falta embrulhá-lo
e jogá-lo fora.

Glauber Rocha

3 comentários:

  1. Este poema do mestre Ferreira Gullar homenageia
    o maior ícone do cinema nacional, este visionário
    do exílio, mau compreendido em sua fotografia transbordante, inchada...responsável pela criação do Novo Cinema Nacional, e por críticas ácidas à mau quista ditadura militar...Obrigado glauber, obrigado Ferreira!!!

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  2. Mas os grandes mestres da Literatura são os únicos que nunca morrem.Os poemas são como Seqüelas que adentram na alma como chagas e ficam na memória da gente pra sempre!Belíssimo poema de Ferreira Gullar.

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  3. Nós, brasileiros, criamos ídolos, brincamos com eles como bonecos de panos, e depois os jogamos no baú do esquecimento. Que o mesmo não aconteça com esses dois.

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